Thursday, May 5, 2011

BLASÉ



Desperta a primavera

com juízo

e tudo se altera

na razão inversa



a confirmação chega

lenta

precisa

gelada



suspeita adiada

árdua resignação



não vislumbrei flexibilidade

confundi os sinais

já era normal



perdemos o Norte

tão difícil...



tudo como antes

receios

dúvidas

afectos



susceptibilidades



não mudo uma vírgula



o mesmo fogo

invisível

a mesma mão



passado onírico

où es-tu?



subtileza de alto risco

antiquíssima

enigmática



primeiramente

aprendemos a ser



mais tarde

soubemos estar



o luar caía

sobre os teus cabelos

e as sombras

cúmplices

confundiam-se aconchegadas

em forma de madrugada



One from the Heart



assumo a verticalidade

com contornos

desvios

e erros



desafio a vida

sem máscara

luvas

ou rede



uma irmã julguei encontrar

assim afirmei

e quis



sem receios



as coisas podem iludir

as pessoas também

podem até parecer o que não são

mas olho o fim da estrada

e distingo a recompensa



mutilo-me

manifesto-me

admito uma profunda desilusão

e envergonho-me

da condição humana



sinto-me fora do meu meio

desde sempre

(já quando era o mais sujo)



espargi o bem

por isso sofro

algo está errado



ecoa a canção interdita

qual rumor melancólico



um pesar mais leve que o vazio

tão forte quanto a indiferença



o devir e o ser

são a mesma e única coisa



a dialética é dinâmica

e a cinética pode ser poesia



o mar

sumptuoso

e sedutor

como tu



já sei!

sou o alvo da traição

sempre fui

(talvez agora percebas)



o vento mudou

ressoam os tambores

mas o outono persiste



teima em ficar...



tal como as cegonhas



sábias...



prudentes...









                         jadis



                                    la pluie était bleue



                                                                        et on chantait tout l'amour

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