Monday, June 15, 2020

LIBERA ME




Ausência pálida impassível de giestas
O rosto silencioso da manhã exora a liturgia das cores
Encosto-me ao poema soturno da imagem retumbante
Irrompe a sombra dos álamos na perscrutação do gesto

Um novo sedimento, uma espécie de silêncio
Despojamento voraz que resvala pelo orvalho
Sombra indigente, as mãos feridas pela erosão
Dentro de mim ardem ruas, carentes de sémen e de tom

Ninfas desfolhadas dançam ao som da tempestade
Fósseis e cães vadios gritam uivos lancinantes
Acato o sonho irado e procuro a voz dos duendes
Na véspera da metáfora suspensa no cais dos amantes

Vigília da terra fecunda do instante à nascente
Pertinaz, a palavra estremece, já com fome e sem abrigo
Um cipreste irrompe renitente à luz da vela
As vagas nuas emudecem sem exórdio e sem cor

Os uivos cedem 
Já não são vadios
Porém um eco vagueia
Perde-se pelos confins


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