Cinco graus abaixo de zero. Uma pedra na mão. A mesma mão que escreve o que a alma dita. Longo longo é o caminho. Continuamente sombrio. Deito-me na terra imensa. Soturna. A dor toca fundo e crava-se no chão. O leito do meu infortúnio. Uma terra estranha onde se quer envelhecer.
Avisto o último fragmento onde só a noite sobrevive. O bilhete de regresso da viagem excelsa. Timidamente aconchego-me na areia desse deserto desmedido. Um deserto que não há. Que começa e acaba em mim. Uma casa nova. Minha. Desassombrada de rosas e doçura. Aberta ao vento. Um lugar esquivo. Onde o sonho foge da realidade. E se esvanece num átimo. De jeito impalpável.
A vertigem da intimidade. O êxodo da confiança. A evasão da cumplicidade. A vida justifica-se ao avesso das palavras. Mostra-se sem fantasia. A desilusão do rancor e da distância. A decadência trajada de ruína. O mundo submisso na penumbra do vazio. Comovo-me. Deixo muito de mim pelo caminho. Um assobio dilacerante ressoa na memória. Uma dor que arde e que vejo. Algo obscuro onde o silêncio não versa o silêncio.
Diz-me coisa nenhuma. Como destino traído pela morte.
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