Saturday, October 31, 2020

(DUPLA) PERSONALIDADE

 





O pseudo sentido de responsabilidade

Escuda-se na ambiguidade

Erradica a disponibilidade

Aperta o cinto de castidade


Friday, October 30, 2020

RESPIRO

 


O simulacro inacabado no equilíbrio de um vislumbre

A tenacidade absoluta em suspenso está no mar inteiro


Monday, October 26, 2020

UM EGO DESMESURADAMENTE DESPROPORCIONAL AO CORPO QUE O ABRIGA. UMA LUZ FINA.

 


Um gigante ilimitado

de debilidade titânica


A dilação consuma-se imóvel

A dessintonia revela-se infesta


Viro costas à sombra impossível

e de súbito volto a ser eu

Friday, October 23, 2020

ANFIBOLOGIA

 



Assunção dúbia sem coesão molecular. De avultada lentidão.

A ambiguidade perdura e instala-se imprimidora. Liquefaz-se no vazio. Recreia-se na vacuidade.

Uma fuga, um falso sinal. O rasto bianual ímprobo e tortuoso.

Nem um ruído nos escombros... A imunidade disforme ábdita do exemplar.

Fatuidade deambulante osca. Já não amparo os limites desse rosto intangível.

Thursday, October 22, 2020

A A A

 



A aquiescência da homocatalexia frui em resilição privada

A predicação melismática percute e volatiliza-se para lá do espelho

A beatitude imperativa condensa-se em senescência onírica

Wednesday, October 14, 2020

A MESMA LUZ

 



um silêncio estridente vindo do infinito

uma voz incauta soa no reduto desvalido

a lei da erosão desvenda um carácter novo

a reinvenção do fogo a quatro mãos

Monday, October 12, 2020

DÉCLORATION DE L’INTENSITÉ

 



l’oiseau frappé par la foudre

couché sur la poussière 


de la honte 

à la répulsion


et 

son  

chant 

oublie 

toute  

la  

mémoire 

du  

monde

Wednesday, October 7, 2020

HAIKU X

 




Desmaia o ânimo das ondas

As marés morrem devagar

O mar já não é salgado

Tuesday, October 6, 2020

20200910 (TRANSALPINO)



Fim de tarde com memória. Uma quinta-feira como qualquer outra. A voz teleguiada vinga-se na felicidade factível. Instila interstícios. Turbulentas fluem as palavras. Quebradas e derradeiras. Vindas de longe. Do nada. Do que não se cumpriu. Pelo atalho mais fácil. Com sombra vegetal. A máscara da banalidade.

A minha fuga ansiosa aos laços vedados. O mundo pára retráctil. Indecifrável e diáfano. O limbo da pele olvido em letargia austera. Sem coordenadas. O amor com limites. O sol eximido. Nada mais é. 

Venero o espanto e cumpro. O vento varre dentro dos livros. Frágil e transparente. O meu rosto sem peso. 

Cerro os olhos malferido pelo olhar furtivo. E olhas com falsa piedade as cinzas que não consigo estender. 

Nada restou do fogo primordial.


Sunday, October 4, 2020

SEM NORTE

 




Cinco graus abaixo de zero. Uma pedra na mão. A mesma mão que escreve o que a alma dita. Longo longo é o caminho. Continuamente sombrio. Deito-me na terra imensa. Soturna. A dor toca fundo e crava-se no chão. O leito do meu infortúnio. Uma terra estranha onde se quer envelhecer. 

Avisto o último fragmento onde só a noite sobrevive. O bilhete de regresso da viagem excelsa. Timidamente aconchego-me na areia desse deserto desmedido. Um deserto que não há.  Que começa e acaba em mim. Uma casa nova. Minha. Desassombrada de rosas e doçura. Aberta ao vento. Um lugar esquivo. Onde o sonho foge da realidade. E se esvanece num átimo. De jeito impalpável.

A vertigem da intimidade. O êxodo da confiança. A evasão da cumplicidade. A vida justifica-se ao avesso das palavras. Mostra-se sem fantasia. A desilusão do rancor e da distância. A decadência trajada de ruína. O mundo submisso na penumbra do vazio. Comovo-me. Deixo muito de mim pelo caminho. Um assobio dilacerante ressoa na memória. Uma dor que arde e que vejo. Algo obscuro onde o silêncio não versa o silêncio.

Diz-me coisa nenhuma. Como destino traído pela morte.

Saturday, October 3, 2020

UMA ESQUINA QUALQUER

 



abertura

um beijo. insondável noite iluminada. traço a elipse à mão. a composição de um porto de abrigo. o pirata apanhado em delito de paixão. uma louca ilusão. ergo o olhar com fulgor natural. o tempo suspenso. a fragilidade no aceno das bétulas. e das camélias. sentimentos absolutos com penas coloridas. no vórtice do tempo. em lagos de luz. as folhas juncam no retiro secreto. de idade transparente. de vários sabores. 

tema e desenvolvimento

sei de cor o mar. primitivo. somente som à superfície. periódico. ao amplo passo do dia. e da noite. pouco a pouco mais dormente. aproximo-me serenamente da vastidão. mais um beijo. no limiar da fina película. um parto difícil. com duração variável. natura filantropa? ou esfinge petrificada? os gestos abstractos solitários. o ranger da porta resiliente. na preconização do nevoeiro.

coda

não sei se sinto. o meu coração impotente. esvai-se na sensibilidade. nas palavras. palavras gravadas de eufemismo. o relevo inacabado do hieróglifo. uma escrita ilegível. o eco das árvores nas palavras. outro beijo. duas flores despidas. em espiral. opção cromática no seio materno. não me recordo de ti. anseio subir ao rubro olhar. da primeira noite. de preferência no campo. ou numa esquina qualquer.


Thursday, October 1, 2020

RELATIVIDADE

 



rocha fria

na sombra da dúvida

num fundo sem fundo

fecho o corpo

sem cálido sinal

na margem da brandura

em natureza variável


sentir é primeiro

nos atalhos da noite

ao zelo do tempo

vivo simplesmente

por ordem alfabética


deito-me cingido

na minha própria sombra

e as folhas imitam o vento


o sofrimento aos olhos do outro não fere