O pseudo sentido de responsabilidade
Escuda-se na ambiguidade
Erradica a disponibilidade
Aperta o cinto de castidade
O pseudo sentido de responsabilidade
Escuda-se na ambiguidade
Erradica a disponibilidade
Aperta o cinto de castidade
O simulacro inacabado no equilíbrio de um vislumbre
A tenacidade absoluta em suspenso está no mar inteiro
Um gigante ilimitado
de debilidade titânica
A dilação consuma-se imóvel
A dessintonia revela-se infesta
Viro costas à sombra impossível
e de súbito volto a ser eu
Assunção dúbia sem coesão molecular. De avultada lentidão.
A ambiguidade perdura e instala-se imprimidora. Liquefaz-se no vazio. Recreia-se na vacuidade.
Uma fuga, um falso sinal. O rasto bianual ímprobo e tortuoso.
Nem um ruído nos escombros... A imunidade disforme ábdita do exemplar.
Fatuidade deambulante osca. Já não amparo os limites desse rosto intangível.
A aquiescência da homocatalexia frui em resilição privada
A predicação melismática percute e volatiliza-se para lá do espelho
A beatitude imperativa condensa-se em senescência onírica
um silêncio estridente vindo do infinito
uma voz incauta soa no reduto desvalido
a lei da erosão desvenda um carácter novo
a reinvenção do fogo a quatro mãos
l’oiseau frappé par la foudre
couché sur la poussière
de la honte
à la répulsion
et
son
chant
oublie
toute
la
mémoire
du
monde
Cinco graus abaixo de zero. Uma pedra na mão. A mesma mão que escreve o que a alma dita. Longo longo é o caminho. Continuamente sombrio. Deito-me na terra imensa. Soturna. A dor toca fundo e crava-se no chão. O leito do meu infortúnio. Uma terra estranha onde se quer envelhecer.
Avisto o último fragmento onde só a noite sobrevive. O bilhete de regresso da viagem excelsa. Timidamente aconchego-me na areia desse deserto desmedido. Um deserto que não há. Que começa e acaba em mim. Uma casa nova. Minha. Desassombrada de rosas e doçura. Aberta ao vento. Um lugar esquivo. Onde o sonho foge da realidade. E se esvanece num átimo. De jeito impalpável.
A vertigem da intimidade. O êxodo da confiança. A evasão da cumplicidade. A vida justifica-se ao avesso das palavras. Mostra-se sem fantasia. A desilusão do rancor e da distância. A decadência trajada de ruína. O mundo submisso na penumbra do vazio. Comovo-me. Deixo muito de mim pelo caminho. Um assobio dilacerante ressoa na memória. Uma dor que arde e que vejo. Algo obscuro onde o silêncio não versa o silêncio.
Diz-me coisa nenhuma. Como destino traído pela morte.
abertura
um beijo. insondável noite iluminada. traço a elipse à mão. a composição de um porto de abrigo. o pirata apanhado em delito de paixão. uma louca ilusão. ergo o olhar com fulgor natural. o tempo suspenso. a fragilidade no aceno das bétulas. e das camélias. sentimentos absolutos com penas coloridas. no vórtice do tempo. em lagos de luz. as folhas juncam no retiro secreto. de idade transparente. de vários sabores.
tema e desenvolvimento
sei de cor o mar. primitivo. somente som à superfície. periódico. ao amplo passo do dia. e da noite. pouco a pouco mais dormente. aproximo-me serenamente da vastidão. mais um beijo. no limiar da fina película. um parto difícil. com duração variável. natura filantropa? ou esfinge petrificada? os gestos abstractos solitários. o ranger da porta resiliente. na preconização do nevoeiro.
coda
não sei se sinto. o meu coração impotente. esvai-se na sensibilidade. nas palavras. palavras gravadas de eufemismo. o relevo inacabado do hieróglifo. uma escrita ilegível. o eco das árvores nas palavras. outro beijo. duas flores despidas. em espiral. opção cromática no seio materno. não me recordo de ti. anseio subir ao rubro olhar. da primeira noite. de preferência no campo. ou numa esquina qualquer.
rocha fria
na sombra da dúvida
num fundo sem fundo
fecho o corpo
sem cálido sinal
na margem da brandura
em natureza variável
sentir é primeiro
nos atalhos da noite
ao zelo do tempo
vivo simplesmente
por ordem alfabética
deito-me cingido
na minha própria sombra
e as folhas imitam o vento
o sofrimento aos olhos do outro não fere