Monday, December 16, 2019

CAMINHOS ESQUECIDOS






A respiração dos livros
A lentidão das pedras
O espaço entre dois seres

Eficácia errante

Thursday, December 12, 2019

NOCTURNE





Pieusement fidèle, brûle un bonheur lointain

le temps a désuni les secrets
et leurs regards attachés

tremblant encore lendemain

Monday, December 2, 2019

TEMPS QUI PASSE






Un regard déjà lourd
le détour de la rivière en marche

Le beau perd sa couleur
un jour de plus vers l’abîme

Voir le matin se lever sur les monts
qui redouble mon silence

Monday, November 25, 2019

LOINTAIN





comme un rêve lointain
la grâce jeune des matins

le feu s’enfuit dans l’air
on jette au vent feuille à feuille

sous la fenêtre étroite
le premier vestige humain

toute douceur est écrite
comme un écho lointain

Wednesday, November 6, 2019

SFUMATO




aspiração insidiosa
ilusão ofertada pela indiferença 
volúpia em progresso subtilmente tardio
dias partilhados
noites que nunca chegam
inépcia em me fundir com os astros
ascese essencial à contemplação da lucidez
fragilidade mascarada
sem sentido

sou o derradeiro habitante da paisagem
erma e desprotegida
ruínas devolutas onde as mãos envelhecem
ao relento
herdo o torpor indolente comum às almas inomináveis
assim arrefece distraído o enlevo
parco e estoico
que raramente nos visita

Sunday, October 27, 2019

CENÁRIO





crepúsculo
mar aberto
lua quase cheia

céu azul
um par de gaivotas
algumas nuvens
um milhafre a sair de campo

um barco à esquerda 
ao centro um vulto 
branco

...

com sabor a vento
e cheiro a maresia

CINQUIÈME ÉTAGE






le cœur grandit
loin sur le chemin

les yeux lointains
de la tendresse exquise

les lueurs du soleil
des murmures étouffés

les étoiles lointaines
d'un désir partagé

les branches de ta beauté
fleuris de pure bonté

ton absence irréelle
comme une chère étreinte

et l’aube revient
avec le frémissement des ailes

un feu étincelant
rouge comme enflammé

soulevé par le vent
qui se penchait vers nous

celui de l'absence
qui ne pense ailleurs toujours

Saturday, October 26, 2019

LUCIFER (diálogo com)






- !!  !!!!!  !!!!  !!!!!!!!!!! !!   !!!!!!

- ?????  ?   ??     ?

- !!! ?!  ??!!! ?!?!?! !!!!!!

- ?                                                          ?

Wednesday, October 23, 2019

OUTONO (menos um Verão)




Fim de estação
pouco Sol
menos Luz

Autarcia despojada 
declarada pelas árvores 
despidas


Com razão

Monday, October 21, 2019

DESCOBERTA DO FOGO (ou da escrita)





contemplo a chama 
plena combustão
consome-se a si mesma
total escuridão

noite de cinzas

assaz longínquo...
um fogo mais remoto do que qualquer alfabeto

(mesmo sem acelerar, deveria travar mais cedo)

Sunday, October 20, 2019

LA RIGUEUR







Maison blanche pensée avec rigueur
L'air se déchire devant ma porte
Le bruit de la terre dans mon sein
Les oublis et les abandons 
Au creux de ma main effeuillant les fleurs
Le dernier soupir d'une douceur secrète
Le temps efface l'irrévocable souvenir

Un doux frémissement
On dissipe Satie dans la nuit
Et ton regard pareil à l'éclair

Décor naturel dans l'âme du rêveur

Tuesday, October 15, 2019

BAIXA RESOLUÇÃO



Vento gélido
em terra firme distingo os teus passos

As folhas murchas cofiam o chão
após a inadiável tempestade

Cenário mal iluminado
como ocorrência de uma passagem

Apenas um brilho seco no olhar
longínquo de um destino qualquer

O inefável momento impossível
da abstracção fulgente e secular


Tudo isto girando em torno do Sol

Monday, October 14, 2019

CISMA







Algo me faz desacreditar 
no barco 

que sinto a afundar

Saturday, October 12, 2019

MORTE DE UM SONHO







Âmago cenestésico preconizado na abjuração dos dias sonhados

- Ufania da sedução


Incongruência ávida incalculável à aspiração genuinamente onírica

- Ruína da volúpia


Impossibilidade premente das nuvens saudarem de novo a tempestade

- Ocaso de um desejo

Friday, October 11, 2019

PREFÁCIO







Depuração de um encontro
a aura sublima o vulgo

A beleza em epígrafe


EUFONIA







                                uma ave afasta-se

                    com subtil elegância

                                permanece a linha do horizonte

Tuesday, October 8, 2019

VÁCUO







O trabalho não liberta!
Mata!!

ASCESE








Inerte, hesitante ou tímida
   a bússola sugere o Norte

A memória trilha sulcos impenetráveis
   e percorre atalhos no quarto vazio

No olhar lívido de brandura
   uma vaga alusão ao silêncio

Um sonho inusitado
   onde as rosas carecem de espinhos







Friday, October 4, 2019

EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA (OU IMPRESCINDÍVEL)




Desfolho as pétalas da vida
Enalteço nuvens diáfanas
Folheio o livro douto

                   A rosa bem temperada

Olho para lá do espelho
Percorro enseadas ocultas
Encaro o sol de frente

                   Discreta sabedoria da paisagem

Wednesday, October 2, 2019

NOTÍCIA







Comboio descarrila e pega fogo em Lisboa. Um morto e um ferido. Via-férrea paralisada ao tráfego desde segunda-feira.

Um comboio de passageiros descarrilou hoje, resultando num grande incêndio, acompanhado de espessas nuvens de fumaça espalhadas pelo céu.

Equipas de emergência foram enviadas rapidamente para o local do incêndio, que teve início por volta das 15 horas locais.


Vários prédios, incluindo o que abriga uma escola da região, foram evacuados como medida de precaução.

Uma grande operação de socorro foi mobilizada para o local. Os moradores desalojados foram acomodados num abrigo próximo.


Segundo relatos dos média locais, pelo menos 13 carruagens saíram dos trilhos durante o acidente, cuja causa ainda é desconhecida.

O acidente terá provocado a morte de um homem de 60 anos. Em estado grave, chegou ao hospital em paragem cardiorrespiratória e entrou para a sala de reanimação. Depois de revertida, foi submetido a cirurgia. Mas acabou por sucumbir aos ferimentos e falecer.


Há ainda um ferido a registar, uma mulher de nacionalidade italiana de 56 anos, cuja gravidade ainda não foi possível apurar. 


A circulação de comboios foi retomada sexta-feira cerca das 17h30.

Sunday, September 29, 2019

ÁTIMO




Diviso a centelha que espreita e desvenda o fulgor cujo brilho amadurece nos confins de um Sul desconhecido.

Venerada pela incandescência hipnótica do estame esguio tingido secretamente ao longo do entardecer.

A ogiva imóvel em solo fértil desvenda o esplendor essencial à ternura do jogo das sombras.

Auspicioso instante à beira da falésia imaginada.

Iluminada pelas aves. Ao som das nuvens.

Friday, September 27, 2019

HAIKU V




inlassable élan assouvi
ombres qui s’enlacent
lèvres qui respirent

HAIKU IV






spectre de la nuit
espace rêvé de lumière
quand il neige de l'or

Tuesday, September 24, 2019

DEVOÇÃO






aspiração lídima
desígnio do esquecimento 

deflagra rarefeito

não nutre o corpo
antes o espírito


Sunday, September 15, 2019

AUTOMATIC WRITING




Há dias em que a clarividência nos assalta
desmedidamente lúcida, acesa
e mostra-se com toda a sua violência

Não posso permitir-me o assalto ao que me é dilecto
naquilo em que creio
no pouco em que ainda acredito

O que estimula o exercício vital tão essencial quanto a respiração

Sinto-me ultrajado perante tanta descrença
e tamanha ambiguidade

Para me julgar basto-me a mim próprio

Resigno-me à minha mera condição itinerante
só assim me aceito e revejo

Como tal, manifesta-se toda a eloquência
só pelo facto de estar vivo
de querer estar vivo

Ousar a ostentação do ouro não é para todos
só para os astutos
ou ágeis

Caso contrário revela altivez
uma petulante presunção
de algo 

Imbuir através da razão o que o coração não vê
ou não sente
é algo em que não confio
genuinamente

A persuasão deverá ser involuntária, espontânea, intuitiva
caso contrário afigura-se como erro

Entretanto estou frágil
experimentei o sabor da abjuração
desconhecido para mim
estranho e ácido

Como se a conjuntura astral fosse a causa inevitável do desencanto
periódico
presente

Ainda que com consciência de toda a vulgaridade
protejo-me do frio, ou do calor que se esconde

O tempo escasseia
o ar rarefaz 
sufoca

Reinvento novos caminhos
com os quais sempre sonhei
e me regeneram como me reconheço

Cerro a porta ao despautério
Abro uma janela para o mar




Saturday, September 14, 2019

HORIZONTE





ao ritmo das vagas
anónimas 
ansiosas 
persistentes

não vou desestimar qualquer lei
(a violência que me espanta)
ou o epílogo do sonho tangível:

lua cheia
nuvens carregadas predizem algo

dois barcos que se cruzam 
mas logo se afastam

Tuesday, September 10, 2019

PROPORÇÃO



Em consonância
com a plenitude imensa dos sonhos

Intimidado
pela regularidade incorrigível da lentidão ostensiva
das nuvens

O silêncio vago da noite chega com tímida leveza

As palavras emudecem
A vida revela-se um esboço

Um diálogo entre luz e sombras

Sunday, August 18, 2019

PROVA DE FOGO




Anos, meses, noites de inércia
A força do desencanto asfixia a melopeia das vagas
Noite de vigília absorvente e estéril insónia
As mãos perdem a astúcia e o juízo esquece a inocência
Arquitecto sonhos onde nada tenho a colher
De tudo o que sobra apenas vislumbro algo
Desconhecido 
Não sobrevivo à sabedoria dos presságios
A rigidez da dor extingue o sentido
Herdo o vazio em voz baixa
Agradeço a esmola melancólica



Procuro alguém com quem falar

Outrora, as nuvens que vimos juntos perdurarão para sempre

Wednesday, August 14, 2019

APRENDIZAGEM DA LUZ




O vento fustiga o silêncio em consonância fugaz
O dilema do esquecimento consome a memória inefável

Ouso afastar-me de tudo o que me devora
E regresso sempre ao mesmo lugar
O lugar da minha infância
Onde a penumbra resignada cede ao poder do fogo

Distingo-te pelo tacto

O enigma à deriva

Wednesday, August 7, 2019

MANUSCRITO




Dádiva refractária da meticulosa crença nos presságios intransigentes
Palavras difusas onde habita a perseverança oculta
  
Refugio-me no mundo das nuvens enigmáticas
E ressurjo na véspera de um sonho
Como um fotógrafo desconhecido

Celebro a vida inteira como um todo
Em silêncio
Sem dedicatória
Vagamente obstinado
Entre aspas ilimitadas

A exactidão das cores
Ou devoluta sabedoria?

Wednesday, July 17, 2019

COGITAÇÃO



Os olhos podem roubar
Mas não mentem

LUA CHEIA








Folha seca sem notícias
Palavras gastas ratificadas
Sombras inúteis que se dissipam

As memórias que apanho do chão
Escalam a montanha a contratempo

Paisagem recortada
Pelas manhãs tempestivas

A vontade já é adulta
E o ânimo já tem sede

Inocência?
Labirinto?

A redenção pelo fogo
E as luzes vagarosas

O musgo entre as pedras
As aves que me visitam
Os rumos estéreis…

Uma tranquilidade que se excede
As vírgulas que se transcendem
E a sedução encoberta pela lua

Nova

Sunday, July 14, 2019

ÍNTIMO






Como permanência ofuscante                  
a mais antiga obsessão


Como exaltação constante                         
a fulgência da percepção       





Sunday, July 7, 2019

SINÓNIMO DE QUOTIDIANO





No deserto inacabado
não morrerei de sede

Tal como um ímpeto relutante
o cortejo passa ao lado

Expectando o crepúsculo
o sublime lê coisas



Coisas inomináveis

Thursday, July 4, 2019

ANOS QUE ENVELHECEM








Diviso a lúgubre oscilação em tudo o que o tempo oculta. Uma abstração remota, assaz definitiva. A homilia da consciência que desperta.  E com ela, uma epifania grave e sóbria. Contundente. A inércia na véspera dos dias puída pelos Deuses. Na tua exterioridade evoco a ausência das coisas. Com inesperada lentidão.

Visito o eremita exótico e urgente na hora auspiciosa... 
Distante e obscura é a lentidão das coisas. Sem regras. Sem tempo. Talvez o pressentimento inusitado do que se esquece. Ou do que parece. O que a juventude me devolveu. 

Monday, June 24, 2019

AINDA E SEMPRE






A idade dos livros
       o eflúvio das flores
               o inventário atemporal




A anosidade ausente
da voz imperturbável
na intimidade das coisas


o que é
é o que será
quando for

Thursday, June 20, 2019

LASCÍVIA






o (im)perceptível som das estrelas
concilia-se com o leve bracejar das árvores

nudez declarada ínclita 

FRAGMENTOS DE UM VESTÍGIO






Uma obsessão desfocada
ou o raro exorcismo do vazio

A ascese de um colapso em ruínas
como herança persistente ao vento

e ao frio…


Assim tange o idioma do silêncio

Sunday, June 16, 2019

CONSONÂNCIA (DE MIM PARA MIM)





Acuidade meticulosa sensível à música das esferas

abjuração dissimulada na respiração da neblina


Languidez ignota sonegada à intimidade dos dias

irredutibilidade premente do que é condicional



A decomposição de um mistério 

ao entardecer

Thursday, May 23, 2019

SONIAL




Sem pressa 
vagaroso 
desperta o Verão

perscruto no interior dos sonhos
outro gesto
a mesma mão

decifro a mensagem das nuvens
e o feérico brilho das pedras

ao veraz som da paixão

Friday, May 3, 2019

AINDA A PROPÓSITO DE FELICIDADE




No rio em que navego
Deixo-me arrastar pela corrente
Não ofereço qualquer resistência
A aprazível sensação de me perder

Talvez para sempre

Tuesday, April 30, 2019

DESCRIÇÃO DE UM SONHO



Hoje estou feliz
Hoje estou feliz porque reparei nas Árvores
Hoje estou feliz porque as Árvores repararam em mim
Mas as Árvores reparam sempre em mim

Se eu não existisse as Árvores reparavam que eu não existia
Porque antes da minha existência já existiam Árvores
Mas antes da Existência também já existiam Árvores
Então depois da Existência continuarão a existir Árvores

Não há Existência sem Árvores
Só há Árvores sem existência
Sem Árvores não há a existência das Árvores
E sem Árvores não há a existência da Existência

Se as Árvores não existissem hoje eu não tinha sido feliz
Se eu fosse uma Árvore seria para sempre feliz
A Felicidade tem a forma de uma Árvore
feliz forma existencial de ser Árvore

Se a Árvore não é feliz é porque não é Árvore
E se a Árvore não é Árvore jamais poderá existir

A minha Árvore existe
Existe porque é minha
É minha porque é Árvore
É Árvore porque é feliz
E é feliz porque é minha


Há dias em que não é possível descrever os Sonhos

Há dias em que não é possível descrever os sonhos dos Sonhos

Há dias em que não é possível descrever os sonhos dos sonhos da Existência

Há dias em que não é possível descrever os sonhos dos sonhos da existência da Felicidade

Há dias em que não é possível descrever os sonhos dos sonhos da existência da felicidade das Árvores 

Há dias assim 

Sunday, April 28, 2019

VISLUMBRE





Vazio
Pausa
Silêncio

Réstia de nada

MÉTAMORPHOSE





mer
aimer
je t’aime

HAIKU III





Le morceau d’innocence
Les couleurs primaires
Les abîmes de l’inconnu

Friday, April 26, 2019

FRÜHLING 2019





espaço imaginário. com ou sem regresso? fragmentos de 
nada. visitam-me. na vigília. sem sombra. 

só uma ave esvoaça. frágil. em segredo. longe da banalidade.

seduzo as nuvens. tímidas e persistentes. sílabas errantes. insistem em passar. lentas. como nos sonhos. estrelas que ameaçam descer. 

a ubiquidade da chuva. a perseverança do vento. o movimento aparente. a pertinência das constelações. 

a lucidez do farol. a dádiva da bússola.


_______ .  _______ .  _______ .  _______ .  _______ .  



fim do trilho. entro na noite. tudo o que resta revela-se chão. 
chão omnisciente. chão onde nasci. e cresci. chão ao qual dei saber e idade. 

local inóspito. despojado. de tédio. de sombra. de quase tudo. 
a floresta que há em mim. bem dentro de mim!

invoco o mar. vítreo e impermisto. esfíngico. sem igual.
de súbito irrompe a lua. de excelência sublimada. sempre só. 
fase após fase... 

cerro as  pálpebras da nostalgia. contemplo a árvore que plantei. a velha árvore que  plantei... que me fala. que me ouve. que me cuida. e me toca. nas manhãs generosas. 

bebo a vida? 
abraço o mundo? 
toco as estrelas?

já quase tudo estava dito. 
outrora. 
através da luz (…)