Sunday, September 15, 2019

AUTOMATIC WRITING




Há dias em que a clarividência nos assalta
desmedidamente lúcida, acesa
e mostra-se com toda a sua violência

Não posso permitir-me o assalto ao que me é dilecto
naquilo em que creio
no pouco em que ainda acredito

O que estimula o exercício vital tão essencial quanto a respiração

Sinto-me ultrajado perante tanta descrença
e tamanha ambiguidade

Para me julgar basto-me a mim próprio

Resigno-me à minha mera condição itinerante
só assim me aceito e revejo

Como tal, manifesta-se toda a eloquência
só pelo facto de estar vivo
de querer estar vivo

Ousar a ostentação do ouro não é para todos
só para os astutos
ou ágeis

Caso contrário revela altivez
uma petulante presunção
de algo 

Imbuir através da razão o que o coração não vê
ou não sente
é algo em que não confio
genuinamente

A persuasão deverá ser involuntária, espontânea, intuitiva
caso contrário afigura-se como erro

Entretanto estou frágil
experimentei o sabor da abjuração
desconhecido para mim
estranho e ácido

Como se a conjuntura astral fosse a causa inevitável do desencanto
periódico
presente

Ainda que com consciência de toda a vulgaridade
protejo-me do frio, ou do calor que se esconde

O tempo escasseia
o ar rarefaz 
sufoca

Reinvento novos caminhos
com os quais sempre sonhei
e me regeneram como me reconheço

Cerro a porta ao despautério
Abro uma janela para o mar




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