Sunday, May 31, 2020

CRENÇA METICULOSA DO OCASO






a ausência do objecto
sem título, sem fogo
com raízes

que pensarão de mim?
ou de mim para mim
como corpo adjacente
dessa espécie em extinção

pouco importa
às horas nefastas
confundidas sem ardor
em cada olhar 
vazio

construo alicerces
obstáculos ao silêncio
onde a chama se retrai
com dor e sem porquê
em insondável solidão

envelheço
escuto os anos 
as manhãs anónimas
em vertigem vã
uma viagem curta… 

de neblina serei 
tal como as palavras
distantes como o frio
veneráveis à ausência

reinvento a sintaxe
percorro lugares inóspitos
alimento-me de mercúrio
e anoiteço em desígnios ébrios

evoco o tacto e a pele
desencanto a clausura
a deserção da dor
a desinfestação do amor

o todo sem conclusão
assim ao vento abandonado
incansável sobre a falésia
longinquamente perdido


em itálico
a priori
ou não

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