Thursday, July 23, 2020

UNE OMBRE DU BONHEUR






le silence parfait
profond et solitaire
d'un langage mystérieux
par élans envolé

le chaud rayon endormi
d'une douce verdure
coule sur le ruisseau
enlacé au brouillard

parmi le vent étonné
serein, humble et tendre
une étrange chorégraphie
s’inclina sous ses pas

(pause)

au-delà des mers inconnues
je démarre mon vol de nouveau
là bas, sous le ciel anonyme
le rayon effleure sa couleur

Saturday, July 18, 2020

TRANSFORMAÇÃO (física ou moral). Dissecação de uma viagem breve. Efémera. Lacónica.




Abissal a dissonância
entre a flor que plantei
que vi nascer, crescer
que colhi

E a que cogito perecer


A dualidade taxonómica intrínseca
à botânica
fitológica

Também as rosas mudam de cor
de aroma
de forma
de ser

afilam os espinhos
esquecem o esplendor
viram-se a poente

Um mimetismo bucólico receoso ao fogo
Uma metamorfose desprezável ao imo da Poiesis  

Saio de cena
deixo as raízes
espero a chuva

Tudo ao sabor do meu tempo

Imagino rosas 
Imagino rosas que não esmoreçam ou sequem
Imagino rosas que não definhem
Imagino Rosas

REALIDADE AUMENTADA





Cabe à insofismável erudição do porvir
desvanecer a quimera dos dias esperados

Friday, July 17, 2020

OUVINDO O ALÉM




Ouvindo o além
em presença do silêncio primordial

As palavras vagas morrem de sede
num sonho fluido em movimento 

Não subestimo o vento
mas considero a tempestade


SONHOS QUE CONSENTEM



Maior que o olhar
no meio do tempo fértil

Sublime, o húmus da terra
enche campos de lume brando

Levanto âncora em águas puras
- o sangue ímpio da madrugada

A imagem do rochedo
a vida breve

Nudez 
batida pela brisa 
sem disfarce

Uma fonte 
em direcção 
ao céu

Cai a noite
em êxtase

E os teus passos tocam-me o rosto

Tuesday, July 7, 2020

HAIKU IX




musa clandestina
glosa indiferente 
o gosto cálido da urze


Sunday, July 5, 2020

SONATA






I. Adagio sostenuto

Túmida lisura na areia branca 
e inclinada evoca vítreo 
o hálito da duna puro e fresco

O acto do corpo voa sem cortina 
ao som de um realejo

O leme suspenso adornado 
no cume do meu saber

Dissipam-se arquipélagos de chão árido 
que piso com ênfase viva



II. Allegro molto e con brio

Uma hora de voz desvanecida 
na penumbra lúdica e cega 

Um rubro vestígio jaz nas longas manhãs 
do mundo indemne a girar 

Pousa o vento nas mãos 
de um esquecimento ainda adulto

O segredo das aves no fulgor da noite pálida 
de palavras úberes entardecidas



III. Largo appassionato

Fecho os olhos e já as folhas me contam: 
- em cada sonho há uma fonte

Austero assombro desenhado 
nas pálpebras oclusas em ardor    

Quantos caminhos de estrelas no campo de trigo longínquo?
Quantas espigas douradas pelo sol a um certo entardecer?

Saturday, July 4, 2020

NOCTURNO




Amanheço com a suavidade de um cálido esboço sem leito.
A minha imagem silenciosa à procura de mim. Dissipada no âmago. Sem óbice.
O teu corpo longínquo. Da língua materna. Exaurido de euforia artificial. Tudo menos o gesto lúbrico a tiracolo.


Centelhas ao abandono. Abertas. Indiferentes ao tacto. E ao mármore.
O poente no parapeito das noites que existem. Imaginadas. À altura dos olhos.
Onde naufragam os rios e os mares. Vergados a uma condição suposta e meramente humana.


O abrigo do sorriso ardente. De fogo. Ao luar. Imanente. 
O ponto anacrónico. As ruas do avesso. Um zelo quase vagaroso. 



Passo abúlico pelos dogmas defessos.
Lídima é a voz do poeta.

Friday, July 3, 2020

REPRESENTAÇÃO




Irreversível traço onírico em gesto de tom escuro
O dilema dos dias com reticências nas colinas de espuma
Adulo o viço das manhãs que precedem a névoa do Outono

Antigos esconderijos vertem permissivos o afecto profundo
A expressão da simplicidade no silêncio do pensamento
Uma imagem idealizada no espaço volúvel de matiz inaudível