Nuvens negras
persistem em ficar
perenes
Imunes à sofreguidão da luz
soçobram
com ardor
Sublimadas
porfiosas
corrosivas
Adormecidas
descansam no meu dorso
em letárgico sono
profundo
Portas entreabertas
que se fecham
uma a uma
com estrondo
Erro por veredas
ermas e profundas
sinuosas
sem fim
Através de mim
devorando-me aos poucos
Identidade autofágica
Onde a noite e a lua se digladiam
feridas pelo orgulho
de lágrimas de sangue
sem gestos de clemência
Desertos salgados
lábios longínquos…
Dirijo o olhar noutra direcção
onde o sol exorta
em consciência
Contemplo o mar
entendo suas preces
temerosas
carentes de rancor
Avisto locais desabitados
inóspitos
onde não se vislumbram sombras
nem ódio
Promessas expectantes
clamam moribundas
(pausa)
O fio do destino
quebra-se silenciosamente
A omissão de qualquer explicação
sinédoque da incompreensão
A fatalidade ecuménica
e o ímpeto da paixão